O final das férias de verão marca, para muitas pessoas, um momento de transição. O regresso ao trabalho é uma experiência marcada por uma intensa mistura de emoções, que frequentemente nos atravessam de forma inesperada. A nostalgia, a tristeza e a ansiedade tornam-se companheiras neste momento de transição, expressando o chamado “blues pós-férias” que, sendo comum, ainda é pouco discutido e compreendido.
Essas emoções, muitas vezes contraditórias, não são sinal de fraqueza ou falta de preparação, mas sim expressão de um processo natural de adaptação. O ser humano organiza-se em ciclos, e cada pausa ou mudança implica uma reacomodação interna. É precisamente o contraste entre o período de lazer, descanso e liberdade das férias e a rotina exigente do trabalho que gera essa avalanche emocional. Durante as férias, há tempo para reencontrar o prazer nas pequenas coisas e para estar presente nos próprios ritmos. Com o seu término, a antecipação do retorno às responsabilidades pode instaurar sentimentos de vazio, desânimo e até sintomas físicos como fadiga ou insónia.
Não se trata, contudo, de um problema individual ou patológico: o mal-estar pós-férias é, na maioria dos casos, um estado temporário, e não uma depressão clínica. Na psicologia, compreendemos que transições implicam fases: um momento de despedida do que passou, um período de ajustamento ao presente e a abertura a novas possibilidades. Ignorar essa dinâmica pode gerar frustração; reconhecê-la, por outro lado, ajuda-nos a normalizar a oscilação emocional e a dar espaço para que o novo se construa.
A dificuldade do regresso está também associada à forma como se encara o próprio trabalho e as exigências da vida. Quanto maior a insatisfação profissional, maior a tendência para que essa transição seja mais sofrida. Muitas vezes, o retorno é acompanhado por uma necessidade quase urgente de evitar o que nos espera, criando desconforto e até resistência ao reencontro com a rotina, o que dificulta a estabilização.
Assim, é importante reforçar que as pausas, representam muito mais do que simples momentos de descanso: são fases essenciais de recarga emocional, que permitem o equilíbrio, a reflexão e a redefinição de prioridades. O período pós-férias traz consigo a oportunidade de reconstrução, onde é natural sentir-se menos motivado ou energizado nas primeiras semanas, até que gradualmente se retome o impulso habitual. Esta adaptação exige respeito pelo tempo individual de cada pessoa e empatia consigo própria, entendendo que a construção emocional e profissional é uma tarefa constante, feita de ciclos, desafios e recomeços.
Aceitar que as transições são intrinsecamente difíceis é parte fundamental do processo. Não só as do final das férias, mas todas as fases que compõem o ciclo da vida. O segredo está em acolher as emoções que surgem, permitir-se avançar com lentidão, incorporar elementos prazerosos do período de descanso na rotina laboral e estabelecer metas futuras. É nesta construção contínua, feita de pausas e regressos, que reside a saúde emocional e a capacidade de crescer e reinventar-se, transformando aquilo que parece apenas uma dificuldade em possibilidade de renovação, aprendizagem e crescimento.
