Não sou artista, não possuo esse dom
Não preciso de cinzel, barro ou papel
Esboço, maquete ou rascunho
Pois a obra molda-se pelas minhas próprias mãos
Constrói-se a cada golpe no meu ser
Em cada instante do tempo numa batida aleatória
Revela-se uma nova face, uma nova camada, uma nova história
Não, não sou artista
Mas ainda assim sou escultora de mim mesma
Escultora do self que se ergue do caos
Do traço que nasce da minha própria força
Composta por pedaços de todos os rostos que amo
De cada olhar ensurdecedor
E das vozes que sussurram ao meu redor
Não, não sou artista
Mas sou a escultora e a escultura
Percebo a responsabilidade em cada aparo
Em cada linha que procuro aprofundar
Explorando uma jornada infinita
Que os outros irão ver e tocar com o olhar
Cada curva define o sentido
E a poeira que escorre pelas mãos de forma imprevisível
É a dança entre descobrir e ser descoberto
Entre ser criado e criar
Não é só uma imagem, mas uma presença tangível
Para o mundo conectada através de uma ponte firme, mas invisível
Não, não sou artista
Mas sou escultora de uma obra em constante construção
Não sou só a individualidade, mas também o coletivo
Não sou apenas o ser humano, mas também o humano social
É entre o peso e a leveza deste esculpido
Que vou moldando cada traço à procura do meu projeto real
A forma em criação, aperfeiçoa-se sem nunca ter fim
Esculpe-se na essência de meu ser
No espelho de cada outro que o ajuda a crescer
Como um olhar terno para o próprio jardim
Pois, conhecer-se é um ato de coragem sem fim.
Não temo este eterno moldar,
Pois só quem se procura, aprende a amar
Não, não sou artista nem uma criação ideal
Sou uma obra imperfeita, uma mudança sem final.
Texto de MD
Inspirado no Self Made Man, escultura de Bobbie Carlyle