Num destes dias pandémicos
dei por mim sentado
à mesa de uma esplanada
com o Pessoa, a Sophia e O`Neill
Cumprimos os distanciamentos
desafiamo-nos a manter as máscaras
e a conversa começou …
Entre olhares
Não só uma mera troca (de olhares)
mas toda uma experiência de descoberta
como se se olhasse
o universo pessoal do outro
Num primeiro momento
o silêncio de todos e cada um, incomodou,
os olhares voltaram-se para dentro
numa contemplação das próprias profundezas
Todos tentaram mostrar olhares despercebidos
mas inundados de pensamentos ocultos
desejosos de brotar
Refeitos das primeiras incertezas e inseguranças
os olhos transformaram-se em janelas abertas para o Mundo
E sem dizer nada
nós nos dissemos tudo
só com o olhar
Percebemos que os olhares
que marcam a nossa vida
são aqueles que tocam a nossa Alma
Que há olhares serenos
que escondem profundas cicatrizes
de muitas batalhas travadas
Que com um olhar
se contam segredos
se pousam beijos
se despertam paixões
e se eternizam sentimentos
Que com o olhar se perfuma outro alguém
se matam saudades
se secam lágrimas
e se ama em silêncio
Só quem viveu de olhares sabe …
“ Quando a luz dos olhos meus
e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar
ai, que bom que isso é meu Deus
que frio, que me dá o encontro desse olhar”
A inesperada chegada
do Vinícius e do Jobim,
mascarilhados também
desvia os nossos olhares
e a mesa fica completa
Em animada cavaqueira,
sem máscaras,
pois já se saboreava café,
algum terá concluído:
“O olhar sempre vai revelar
O que cada um tem de melhor”
Cortesia do meu amigo
Fernando Pinheiro