Se a vida nos prega uma partida e a saúde nos atraiçoa, nem tudo está perdido. Por mais grave que possa parecer, ainda podemos arregaçar as mangas e ir à luta. Batalha a batalha, podemos vencer a guerra! Batalhas travadas em conjunto e junto daqueles que nos amam!
O texto que se segue “Ode à Amizade”, foi escrito em Fevereiro e é o resultado de uma guerra vencida e reflete o sentimento de quem teve de atravessar campos minados mas, entre braços e abraços, conseguiu superar as adversidades e venceu. És uma guerreira Amiga!
Querid@s amig@s
Porque nunca é demais agradecer, eu venho dizer-vos OBRIGADA!
Amanhã é a última injeção. Para vós que me acompanhastes nesta luta inesperada e difícil, sabeis a que me refiro. Amanhã fecha-se um ciclo na minha vida; um ciclo que começou no dia 29 de novembro de 2019 (dia em que recebi o veredicto chamado CANCRO) e que foi assustador, angustiante, aflitivo, às vezes até doloroso, mas, por incrível que pareça, também revelador de um lado fantástico da vida! Por isso, só posso estar grata. Grata a Deus, porque acredito Nele e numa força maior que esteve ao meu lado, e grata aos meus amigos, porque desde o primeiro dia nunca me abandonaram. E foi literalmente desde o primeiro dia. Não esqueço os vossos rostos assutados e tristes quando vos dei a novidade. Não esqueço os abraços fortes e sentidos com que de imediato me confortavam e me garantiam que ia correr tudo bem! Não esqueço a coragem que me deram e a força que me transmitiram, pedindo-me que acreditasse!
E eu acreditei. Graças, também a vocês, eu acreditei.
Não vos desejo o medo e outras coisas más que se sente quando temos que dizer “tenho cancro”, mas desejo-vos os sentimentos incomensuráveis que se podem viver quando não se está sozinho num momento tão difícil da vida. Aqueles momentos em que percebemos que somos mesmo mortais….que tudo pode acabar mais depressa do que esperávamos ou desejávamos…quando o medo e a incerteza nos consomem e nos deturpam a lucidez, quando se abre um buraco à nossa frente e parece que não escapamos de cair para dentro dele.
Se nesses momentos percebes que não estás sozinha, que tens pessoas que te ajudam e te querem bem, então, como dizem os nuestros hermanos “no passa nada”; de repente, ganhas força que não sabias que tinhas; ganhas vontade de, também por eles, lutar e vencer! Nunca desistir! E se sentes que cais em desânimo, também sabes que há alguém que te vai ajudar a inverter esse sentimento. E esse alguém às vezes é quem menos esperas e isso é tão bom. Ou então, é alguém que está a quilómetros de distância, mas apenas fisicamente, porque não há
estrada, nem montanhas, nem rios, nem mares que impeçam as demonstrações de carinho e amizade.
Obrigada, obrigada, muito obrigada meus AMIGOS por me terem acompanhado e por terem caminhado ao meu lado no percurso mais sinuoso e mais duro (até ao momento) da minha vida. Obrigada pelos grandes e também pelos singelos gestos de amizade que me fizeram (e fazem) feliz!
Graças ao vosso apoio, o difícil e assustador tornou-se naturalmente em algo…natural…e quase fácil: era só mais um tratamento que matematicamente contabilizávamos como “menos um”; a cabeleira era só um adereço que até disfarçava bem a coisa; fizemos contagem decrescente juntos e era com enorme prazer que eu vos dizia ou mandava mensagens a dizer “já só faltam 15”, “já só faltam 14”…e amanhã, dia 19 de fevereiro de 2021, já não faltará NADA!
Este era o momento mais desejado quando tudo começou: chegar ao fim. Um fim que parecia tão longínquo, como impossível, mas que finalmente chegou! E com ele, a cura! Sei que pode não ser definitiva, mas vou acreditar que sim.
Termino parafraseando o cardeal Tolentino de Mendonça:
Nem todas as nossas amizades chegam a tomar consciência da extraordinária viagem interior que as mobiliza. Porém, mesmo quando a amizade parece simplesmente prosaica, é este programa que realiza, pois há sempre um instante em que os verdadeiros amigos se revelam como aqueles que estão dispostos a acompanhar-nos aconteça o que acontecer.
Não esperamos nada dos nossos amigos, e essa franqueza é fundamental. Mas, não esperando nada, esperamos tudo, na medida em que a sua existência nos permite existir. A doçura da amizade é equivalente a esse seu rigor mais infrangível: o meu amigo é este próximo que não deixa de ser distante. Mas é também o distante que sabe tornar-se próximo e íntimo.
José Tolentino Mendonça, in “O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas”
A vossa amiga para sempre,
Manuela Campos Duarte